Dia Nacional do Dentista
Quem realmente soube que ontem dia 25 de outubro foi comemorado o Dia Nacional do Dentista? E o Dia Internacional do Dentista, que se passou no dia 03 de Outubro?
São as agruras e a falta de destaque de uma profissão por muitos desejada, por outros tantos temida e que tem o status de nobreza, mas na verdade é uma batalha sem fim em busca do pão de cada dia.
Nunca tive na realidade o sonho de ser dentista. Simplesmente aconteceu... Ninguém na minha família inteira jamais exerceu a profissão. fui pioneiro e desbravador e ainda luto muito para me estabelecer profissionalmente.
Na verdade tudo começou no início dos anos 90, quando estava terminando o antigo segundo grau no Colégio Farias Brito no centro de Fortaleza. Meu grande sonho sempre foi de ser piloto-aviador. Passava horas e horas olhando para o aeroporto do telhado do meu prédio e não perdia uma oportunidade de chegar ao antigo Pinto Martins para ver a movimentação de aeronaves.
Enquanto criança diversas vezes assistia pousos e decolagens de uma maneira muito especial, de dentro da cabine das aeronaves prestando toda atenção ao check list inicial do piloto e toda aquele palavreado em inglês que me deixava encantado. Aquela seria a vida ideal para mim!
Contudo o tempo foi passando e chegava a época do Vestibular... O Presidente naquela época era Collor de Mello e ele havia suspendido todo e qualquer concurso de admissão a AFA (Academia da Força Aérea), o que me deixou desapontado.
Assim, devido à minha afinidade por Química e Biologia decidí que deveria cursar algum curso da área de saúde. Aos 17 anos então passava na Faculdade de Odontologia da UFC e também em Medicina Veterinária da UECE.
Era tempo das famigeradas provas de somatório, sistema novo de avaliação na época seguido por uma terrível prova aberta, que havia derrubado uma quantidade enorme (acho até que histórica) de estudantes nos 2 vestibulares anteriores... Era época de Olimpíadas de Barcelona plenamente assitidas no Bar do Bob na esquina do FB e também das passeatas dos cara-pintadas. Era o ano das longas conversas na pracinha da Igreja do Carmo e das fugidas para assistir filmes nos cinemas Diogo São Luís e Fortaleza... era o ano da minha aprovação!
Não fiz minha matrícula na UECE, pois estava encantado com o sonho de ser um dentista. Inicialmente iludido pensando que me tornaria muito rico com a profissão. Coisas da cabeça de um jovem tolo.
Início de curso: novas amizades, novos desafios. Diferentemente do sistema dos colégios percebí que na Faculdade eu estaria só. A responsabilidade era toda minha.
Logo no primeiro semestre, a primeira A.F. (Avaliação final). Logo em Química Orgânica que tanto amava. Sim, os tempos haviam mudado...
Apesar do 10 em Sociologia corria o risco de logo no primeiro semestre perder uma Cadeira, o que felizmente não veio a ocorrer graças a uma grande ajuda do professor Ângelo. Mas o alerta estava dado: Precisava estudar!
Me esforcei e sempre fui um aluno mediano, nunca sendo reprovado em nenhuma cadeira. Em minha turma sempre existiram pessoas mais brilhantes do que eu.
Mas quando começaram as cadeiras clínicas, de atendimento dos paciente, me revelei como um dos acadêmicos mais dedicados. Fazia amizades com meus pacientes e mesmo com o sofrimento do início, com as restaurações de amálgama que eram feitas em duas horas, conseguia agradar meus pacientes...
Havia um diferencial em mim. Acho que meu modo de tratar cordial, sincero e preocupado agradava a todos. Compensava minha falta de experiência com muita atenção e descobrí que minha profissão também serve como válvula de escape para todos os temores do ser humano.
Ali, quase num misto de barbeiro e psicólogo ouvia as queixas, os temores e até os mais íntimos segredos de meus pacientes... Sorria e chorava, consolava e apaziguava, trazia paz e confiança enquanto pessoalmente sofria com a pouca experiência.
Cheguei então ao oitavo e último semestre e com ele vieram o estágio em Aracatí, as madrugadas na emegência da UFC, a comissão de Formatura e a colação de grau. Aula da Saudade, Culto, Missa e Festa... Tudo muito breve.
Perdemos Marco Antônio, acadêmico que entrou quase nos últimos semestres na nossa turma e que lutava contra o Câncer. Quase conseguiu se formar. Ficou na saudade...
Passado a euforia dos últimos dias voltava meus olhos para a dura realidade: Era um recém-formado desempregado. A grande soma de dinheiro investida por meu heróico pai, um subtenente do exército reformado estava encalhada. Sim, pois apesar da faculdade ser pública tínhamos uma lista semestral de instrumental a comprar que beirava a casa dos 2 mil reais.
Muito dinheiro para uma família de classe média baixa... Mas ele conseguiu e o instrumental comprado ficou guardado para quando tivesse meu próprio consultório.
Nesta época meu irmão, Promotor de justiça recém-empossado no Ministério Público do Maranhão me chamou para passar férias em sua residência em Coroatá. Fui e levei na bagagem a esperança de conseguir meu primeiro emprego na comarca em que ele trabalhava.
E conseguí... Era então o Cirurgião-Dentista David Braúna, formado em Fortaleza e no alto dos meus 22 anos de idade... Morava no Hospital e com o primeiro salário (2 mil reais líquidos) pude comprar vários bens, dentre eles meu próprio consultório, um carro e vários eletrodomésticos.
Gastava sem medida e acabei me endividando demais. Ainda assim ganhava aquele ótimo salário e quando montei meu consultório, quase dobrei o valor dele. Mas aos poucos ia me afundando em dívidas. A jovialidade e a inexperiência me fizeram perder muito dinheiro.
Cometí aí o primeiro erro da minha vida profissional: Arrendei meu consultório particular para outro dentista recém-formado e deixei que ele me destruísse o consultório e minha incipiente clientela.
Ainda decepcionado comecei a me pós-graduar em Endodontia (Canal) aquí em Fortaleza e percebí que não mais aguentava de saudade de minha terra natal.
Precisava voltar após 3 anos de muita luta e após ter conseguido bastante experiência profissional (Cheguei a ser coordenador de saúde bucal do munícipio que estava).
Trouxe o consultório e a experiência, além da imensa vontade de me dar bem aqui... Comecei trabalhando como dentista em Paraipaba, mas ganhava muito pouco.
Tive dissabores com o consultório na primeira instalação já aqui na capital. Pouca clientela e muitas dívidas, praticamente pagava para trabalhar.
A pouca experiência em administração falou mais alto e me fez cometer meu segundo erro: Mudei meu consultório para um plano de saúde bucal incipiente aqui de Fortaleza de um amigo da família e depois de muitas idas e vindas percebí a falta de caráter dos proprietários.
Mas já era tarde: Tive de vender meu consultório e todo o instrumental.
Encontrei logo depois guarida no Projeto Batista Nova Aliança e na Odontoart e tive a ajuda pessoal de gente como Tia Fátima, Dr. Tadeu e Dra. Glêucia que me ajudaram a reencontrar a auto-estima na minha profissão.
Tenho lutado demasiamente, mas as vezes fico entristecido com a situação da Odontologia no País: Pouca oferta de emprego, baixa remuneração, cursos de Pós- graduação muito caros, o isolamento da profissão e muita competitividade.
Mercado saturado não é novidade para mim. As vezes acho que terei de voltar às agruras duma vida no interior distante de tudo que sempre gostei (Sou essencialmente urbano) e dependendo das condiçoes encaro qualquer coisa. Não tenho medo disto mas sei que me distanciaria mais e mais do meu sonho de realização profissional.
Hoje na verdade posso dizer que a Odontologia é linda e uma ciência ímpar, mas que requer muito empenho. Já me perguntei mil vezes se estou realmente no caminho certo e digo com sinceridade que não sei.
Contudo, entendo a importância do meu ofício e tomo as palavras de meu sábio e velho pai como exemplo para qualquer jovem que queira se aventurar por este nobre caminho:
"FILHO, TUA PROFISSÃO É SAGRADA: VOCÊ TEM EM TUAS MÃOS UMA DÁDIVA DE DEUS QUE É LIVRAR TEU PRÓXIMO DAS DORES... LUTE COM FÉ E PERSEVERARÁS."
E assim tenho feito meu pai! Cada dia que me levanto agradeço pela oportunidade que Deus me deu e pela dedicação de todos que me ajudam a vencer esta peleja. Agradeço quando vou deitar pelo descanso as minhas costas que já doem pelo dia do trabalho e pela vista e mente cansadas... Agradeço ainda pelo meu salário que ainda não é suficiente para quitar minhas dívidas, mas ainda assim me dá uma condição de vida bem melhor que a grande maioria das pessoas.
Finalmente agradeço por ainda poder sonhar com meus aviões e saber que com muito esforço ainda posso chegar lá, desempenhando com firmeza o dom que veio do alto e esperando que um dia possa estar plenamente realizado com o caminho que escolhí...
Parabéns a todos que como eu decidiram abraçar esta nobre profissão e como sacerdotes matam um leão a cada dia para fazerem as pessoas sorrirem.
FELIZ DIA DO DENTISTA!
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